Para que, afinal, serve a educação? Qual o verdadeiro significado?

Por: Zé William

EDUCAÇÃO E SUAS IDEOLOGIAS PROPOSITIVAS NAS ENTRELINHAS DOS LIVROS DIDÁTICO


Vou aproveitar o ensejo para tecer comentários sobre a educação no Brasil, no mundo. Tenho dois netos estudando: um no curso primário e o outro início do fundamental. Sinceramente, ando assustado com tudo que está acontecendo nas escolas, não especificamente na escola que meus netos estudam, mas nas escolas em geral: os propósitos e os livros adotados. Aí, indago: para que, afinal, serve a educação? Qual o verdadeiro significado? O que se espera dos jovens, homens futuro do amanhã? Pois é, pensando nisso, ouso discorrer sobre o assunto.

Ao estudar com meu neto para a prova, lendo trecho do livro “Anglo, 7º ano, caderno 4”, livro adotado pela escola, percebi que  o tradicional modelo praticado nas escolas do mundo inteiro, que deu certo no requisito que nos capacita naquilo que desejamos, para tirarmos nosso sustento, passou a sofrer mudanças em seus princípios e métodos em prol de discursos políticos e formação de militantes. Isto ficou visível na lição “Racismo” nas páginas 162 e 163 no referido livro, onde instiga o estudante a odiar os brancos, a própria classe social dos pais e toda sociedade, pela situação à qual os negros se encontram hoje. Associando entre a cor da pele negra e a desvalorização social por este motivo; alegando que os africanos tiveram sua cultura e sua humanidade desvalorizadas quando aqui chegaram, como se escravo, em alguma página da história, tivesse tido algum direito, perguntei-me: por que o historiador não apresenta a realidade? Por que é tão difícil assim dizer a verdade? Que o comércio de escravo estava presente no continente africano desde os egípcios antigos? Que a escravidão sempre existiu? E, em muitas passagens bíblicas apoiam essa prática, ao dar instrução de como os escravos devem ser tratados, caracterizando permissão, como o apresentado no Colossenses 4:1: “Senhores, deem aos seus escravos o que é justo e direito, sabendo que vocês também têm um Senhor nos céus”.

Na África, o comércio de escravos teve início por volta do século II a.C. Com a descoberta do “Novo Mundo” no século XV, os europeus passaram a praticar o lucrativo tráfico negreiro, que aconteceu durante quatro séculos entre o continente africano e o continente americano com o consentimento de toda sociedade, inclusive das igejas e dos homens bons. Os africanos não foram escravizados por causa da cor e sim por serem pobres e subdesenvolvidos. A situação social dos negros no Brasil deveu-se à forma de como se deu a “Lei Áurea”, onde negros foram abandonados à própria sorte, sem a realização de reformas que os integrassem socialmente.

Resumir toda esta história de tragédias, descaso, preconceitos, injustiças e dor em duas letras musicais como “Todos os olhos em nóiz” e “Ismália” do rapper Emicida, como se não existisse “O Navio Negreiro” de Castro Alves, que relata a situação sofrida pelos africanos, vítimas do tráfico de escravos nas viagens de navio da África para o Brasil, no meu entender, é negar a verdade, é banalizar a vida, é querer instigar a revolta nos alunos; doutriná-los.

Na página 297 deste mesmo livro: “Anglo, 7º ano, caderno 4”, de forma cristalina o texto ali apresentado persuade o aluno a se revoltar contra o governo de Jair Messias Bolsonaro, ao imputar-lhe a responsabilidade das queimadas no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia, com fins de grilagem de terras públicas indígenas. Além de outras acusações levianas, como dizer ser um governo que desmonta os órgãos de fiscalização e monitoramento e arma as classes proprietárias rurais para avançar com a pistolagem e conflitos no campo.

Tudo isso é assustador, por se tratar de um livro didático, editado por autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC), num governo de um presidente conservador que tem filha na idade escolar, e este demonstrar não ter ciência do teor dos livros didáticos apresentados nas escolas. Imagine o pai, cidadão comum, que mourejava sem descanso para manter o filho em escola particular, acreditando que a maldição da doutrinação ideológica se limita apenas às escolas públicas? Os autores do livro em questão, acharam um absurdo a escravatura dos negros, mas não se condoem em preparar as crianças para aceitarem um outro tipo de servidão que é o comunismo que cerceia toda liberdade e esperança de um povo, que é tão cruel e desumano quanto as atrocidades praticadas aos negros na época da escravidão.

Voltando ao referido livro, ainda na página “297”, ele condena o agronegócio quando afirma que “A culpa é do agro: as queimadas, o desmatamento, a grilagem, a erosão e tudo mais são estratégias para consolidar a grilagem no sentido de ampliar a área de plantio”. O criador do citado livro apresenta uma visão estreita e limitada sobre o assunto. Segundo o antropólogo Luiz Marins Filho, o agronegócio brasileiro é responsável por alimentar a população mundial, que deve passar dos nove bilhões de pessoas nos próximos 40-50 anos. Mas mentir ou distorcer os fatos é papel da esquerda aqui no Brasil. Para o antropólogo, nada soa mais falso que dizer que o agronegócio é destruidor do meio ambiente. Ele afirma que, dos 400 milhões de hectares agriculturáveis no Brasil – respeitada toda a legislação brasileira – utilizam-se somente 62 milhões de hectares e o Brasil é um dos países do mundo que menos agride o meio ambiente com defensivos químicos por hectare. E finaliza: “Essa é a verdade que a esquerda gosta de esconder. Que todo brasileiro consciente deve comemorar e torcer para que o agronegócio se desenvolva”.

Voltando ao assunto da educação, pergunto: por que estamos educando ou sendo educados? Por qual motivo enfrentamos a labuta diária do ir e vir à escola para aprendermos várias matérias e a ginástica pelas melhores notas? A que se destina todo esse pelejar? Para funcionarmos como médico, advogado, jornalista ou para funcionarmos como seres humanos e termos melhor compreensão do processo da vida?

Acontece que, por medo de arriscarmos o novo, mantemos o que se aplica hoje, que nos capacita para ganharmos nosso sustento, sacrificando assim o nosso funcionamento como seres humanos por nos tornarmos excessivamente técnicos.

É isto que está acontecendo: estamos colocando todos os ovos num único balaio, quando no ensino buscamos apenas um objetivo: homem técnico. O conteúdo adquirido nas salas de aula, para atingir esse objetivo, não alimenta nossa alma, e quando se chega para idade, precisa-se de sabedoria para darmos sentido ao viver e evitar que nos saturemos da vida. Portanto, a educação do jeito que é aplicada hoje nas escolas precisa ser repensada: falhou! Não deu certo no todo. Não atingiu o intento por não incluir no seu escopo a preocupação de melhorar o homem para que ele pudesse transformar nosso mundo num lugar melhor para se viver. Acontece que os ensinamentos aplicados nesse sentido, de entendermos as complexidades da vida, de nos melhorarmos como pessoa, em nada atrapalha ou compromete o propósito da educação tradicional, de nos preparar para desenvolvermos uma aptidão específica, no sentido de alcançarmos melhor emprego, ganharmos mais dinheiro e galgarmos status sociais, pois essas conquistas fazem parte do nosso viver.

O ensino, por ser limitado, não nos ensina a entender a nós mesmos e a vida na sua plenitude, e por falta deste conhecimento padecemos: vivemos assustados, sem confiança em nós, amedrontados com a vida e as hienas de plantão, escondidos nos guetos da sociedade, nas entrelinhas dos livros didáticos, que acabam tirando proveito da situação.

A falta dessa preocupação das escolas, de melhorarem os homens para que estes melhorem o mundo, acabou comprometendo a paz, como registrado nos livros de história, de não termos tido sequer um dia sem guerra, por mais de quatro mil anos. Atualmente, o Leste Europeu vive essa triste realidade. É a constatação que a educação não atingiu seu objetivo como se acreditava no início: atenuar os instintos primitivos do homem para que este pudesse viver em harmonia.

Por viver, desde seus primórdios, submissa a líderes políticos ou religiosos, a mente humana acabou aceitando como normal esse condicionamento. Por não ter ciência da gravidade, não se preocupou em desenvolver inteligência para se desvencilhar dessas amarras. E este é o motivo de não constar no arcabouço normativo da educação escolar, algo voltado para aguçar a mente humana, no sentido de despertar o discernimento do certo e do errado, para melhor julgar as ações humanas, em especial, desses líderes.

O preparo dos jovens, como é aplicado, não os auxilia a compreender melhor a vasta expansão da vida com todas as suas sutilezas, tristezas e alegrias, e quando chegam na adultidade, todos seguem o mesmo padrão: casar, procriar, se atrelar a um emprego, se definhar por quatro, cinco décadas, mourejando no ofício escolhido até se aposentar. Quem de família abastada é, se esquiva dessa sorte, por ser dono do próprio tempo, mas por ter sido moldado por este pacote educacional, passará também por esse processo de deterioração mental.

Podemos adquirir diplomas, títulos, bom emprego, mas, ao longo da vida, o conteúdo forjado nas salas de aula e cristalizado pela experiência adquirida no labor diário, não nos qualifica para enfrentarmos nossas assombrações, porque a educação na forma que nos é apresentada omite o essencial que é cultivar em nós a inteligência para desenvolvermos a capacidade de pensar livremente e descobrirmos sem medo o que é real, o que é verdadeiro.

Esse modelo praticado nas escolas do mundo inteiro, que apenas nos capacita naquilo que desejamos, para tirarmos nosso sustento, nos priva da compreensão dos grandes mistérios da vida, de forma ampla e profunda, e isto acaba nos deixando a mercê de líderes sem escrúpulos que nos extorquem e roubam nossa liberdade, como nos mostra a história de todos os tempos e, em especial, dos últimos 100 anos, de povos que foram e continuam escravizados por falta de sabedoria para se esquivarem dos déspotas de países fundamentalistas, comunistas e nazistas. Tudo isto aconteceu e vai continuar acontecendo se nada for feito nesse processo de capacitação do homem, que visa intruí-lo para conseguir um bom emprego, em detrimento deste de adquirir uma melhor percepção do mundo. Ter um emprego para garantir o próprio sustento se faz necessário, a pessoa precisa se alimentar, se entreter, ter conforto e segurança física. Mas a vida não se limita somente a isto, ela é bem mais ampla, mais profunda, e para entender seus mistérios só nos é possível como seres humanos, não como pessoa habilidosa numa determinada coisa. Uma sociedade constituída de homens técnicos, fada a humanidade a uma vida tediosa, susceptível à escravização, e vários tipos de exploração por líderes maliciosos, como a que o povo brasileiro vai experimentar nos próximos anos, por ter sido ludibriado pelos senhores absolutos e tiranos de plantão.

Tão importante quanto questionarmos a educação aplicada nas escolas, é buscarmos também entender qual o real significado da vida, para agregar esse conhecimento no ensino, para que este não se limite, única e exclusivamente, em produzir perito em um determinado assunto, que depois passará o resto da vida com medo de perder o emprego, medo de não ser autossuficiente, ou algum outro tipo de medo que dificulta a compreensão da vida na sua totalidade. A educação teria maior significado se nos auxiliasse também a compreendermos a nós mesmos, o mundo político, o mundo religioso, assim como a complexidade que é o viver.

Diplomas, títulos, cargos importantes fazem sentido, mas depois de um determinado tempo o processo repetitivo embota a mente, tornando a vida estreita e limitada. Inda na juventude, na idade escolar, deveríamos ser educados para desenvolvermos a compreensão do verdadeiro significado da vida, antes do labor diário embotar nossa mente.

A escola de hoje é a repetição da escola de ontem, com pequenas adaptações. Não ajuda o aluno a descobrir, por si só, o que é verdadeiro, nem promove o autoconhecimento para que tenha uma mente aguçada, voltada para melhorar a vida espiritual, o próprio mundo em que vive e desenvolver discernimento para saber se livrar dos déspotas que querem escravizá-lo.

Esta falha no atual projeto educacional compromete o desenvolvimento intelectual que, na vida adulta, se sujeita ao capricho de governo tirano como natural, justamente por não saber discernir o real do falso. Os alunos de hoje são os cidadãos de amanhã. Em virtude do estreito método empregado no ensino, primando pela formação de profissionais eficientes, não seres humanos plenos, nos expõem ao risco de sermos escravizados por qualquer tirano, como tem mostrado a história da humanidade.

Texto: Zé William

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Brasileiro da Bahia que gosta de escrever. Escritor/Jornalista que gosta de abordar o cotidiano do seu ângulo de visão.

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