A Polícia Federal cumpre, nesta sexta-feira (20), mandados de busca e apreensão em endereços do cantor Sérgio Reis e do deputado bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ). Os mandados foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
O foco das apurações são convocações para atos antidemocráticos e contra o STF para 7 de setembro. Os investigadores apuram ainda o apoio de empresários do agronegócio a esses movimentos.
Bolsonaro entra com ação para proibir STF de abrir inquérito sem aval do Ministério Público
São 29 mandados sendo executados. Na manhã desta sexta, agentes da Polícia Federal já estiveram ao menos em quatro endereços ligados ao cantor, no Rio de Janeiro e em Brasília. Policiais realizaram buscas também na casa e no gabinete do parlamentar.
Em nota, a PF informou que “o objetivo das medidas é apurar o eventual cometimento do crime de incitar a população, através das redes sociais, a praticar atos violentos e ameaçadores contra a Democracia, o Estado de Direito e suas Instituições, bem como contra os membros dos Poderes”.
A investigação que motivou a operação da Polícia Federal desta sexta-feira sobre atos violentos e intimidatórios contra a democracia aponta ameaças de agressão contra autoridades.
Segundo apuração da Globonews, há indícios de ameaças a ministros do STF, a senadores e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). As investigações de ameaças de agressão envolvem além de Sergio Reis e Ottoni de Paula, empresários e o sindicalista Wallace Landim, conhecido como Chorão.
Cantor negou ter medo de ser preso
Após gerar polêmica nos últimos dias por convocar uma greve de caminhoneiros nas vésperas do 7 de setembro para atacar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), o cantor e ex-deputado federal Sérgio Reis foi alvo de duras críticas.
No entanto, a posição de Reis não mudou. “Se não fizer uma paralisação, não muda esse país”, declarou em entrevista ao jornal O Globo. Além disso, foi além e disse não temer ser preso. “Eu não tenho medo de ser preso. Não sou frouxo. Não sou mulher. Cadeia é para homem”, disse.
Ainda assim, o ex-deputado afirma se arrepender de ter gravado o áudio. “Eu estava conversando com um amigo. Era tudo brincadeira. Ele postou no grupinho dele e aquilo foi para fora. E isso me prejudicou muito”, contou. “Eu me arrependo demais de ter falado com um amigo. Amigo da onça, sabe como é.”
Após o fim das buscas em sua casa, Otoni iniciou uma transmissão ao vivo no Facebook, na qual afirmou não temer a tirania e classificou a ação do ministro Alexandre de Moraes como uma “vergonha”.
O deputado bolsonarista relatou que os agentes levaram um celular e um notebook e que ele recebeu uma intimação para comparecer à Polícia Federal ainda nesta sexta-feira.
“Vamos em frente, com muita coragem, mostrando que nós não temos medo de tirania, seja ela de quem for, inclusive do senhor tirano ministro Alexandre de Moraes. Que vergonha, ministro”, disse.
Durante os cerca de nove minutos de transmissão, o parlamentar também disse que o ministro tem uma “postura antidemocrática” e que, “um dia, todos darão conta a Deus”.
“Que postura antidemocrática que vossa excelência tem tido. Mas é assim mesmo. Um dia nós todos, ministro, vamos dar conta a Deus. Eu vou dar conta a Deus e o senhor também vai dar conta a Deus. Se a justiça aqui na terra falhar, a justiça divina, essa não falha nunca”, afirmou.
Em julho de 2020, Otoni de Paula já foi alvo de denúncia da PGR ao STF para apurar supostos crimes de difamação, injúria e ofensas ao ministro Alexandre de Moraes. Um mês depois, a Justiça determinou que as postagens referidas na denúncia fossem excluídas.
Nos registros, Otoni chamava Moraes de “lixo” e “canalha”, acusando o magistrado de tirania. Na ocasião, o deputado era um dos vice-líderes do governo Bolsonaro, cargo que ele já não ocupa.
Entenda
No último sábado (15/8), Sérgio Reis se tornou um dos assuntos mais comentados no país após anunciar, em vídeo, a organização de um acampamento em Brasília para defender o presidente Jair Bolsonaro e “salvar o Brasil”.
“É uma coisa séria, um movimento clássico, sem agressões, sem nada. Queremos dar um jeito e movimentar esse país. Salvar o nosso povo”, dizia o cantor.
“Estamos nos preparando judicialmente para fazer uma coisa séria, para que o governo e o Exército tomem posição.”
Após a divulgação do vídeo, tornou-se público um outro registro do cantor, que chamou ainda mais atenção.
Em áudio de WhatsApp enviado a um amigo, Sérgio Reis fazia ameaças ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e aos ministros do STF.
“Dia 8 vamos ao Senado… Eles vão receber um documento assim: vocês têm 72 horas para aprovar o voto impresso e para tirar todos os ministros do Supremo Tribunal Federal. Não é um pedido; é uma ordem!”, dizia Reis no áudio, afirmando que iria acompanhado de dois líderes caminhoneiros e dois representantes do setor de soja.
“Se vocês não cumprirem em 72 horas, nós vamos dar mais 72 horas, só que nós vamos parar o país. Já está tudo armado. O país vai parar”, afirmava. “E, se em 30 dias eles não tirarem aqueles caras, nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra.”
O áudio teve ampla repercussão negativa, sendo prontamente negado por líderes caminhoneiros e representantes do agronegócio, como o sojicultor Blairo Maggi, e deu origem a um inquérito conduzido no Distrito Federal.
O cantor ainda não se pronunciou sobre a operação desta sexta.
Fonte: https://www.bbc.com/