O que a Vida me Ensinou

O que aprendi foi a vida quem ensinou, o livro servia para buscar citações daquilo que a vida me ensinara, no sentido checar minha sanidade mental. Quando criança, na porta do clube social de Caetité, presenciei uma cena muito forte que me marcou para sempre. A indignação me jogou no campo das reflexões de onde nunca mais saí.

Era domingo de carnaval, não tinha idade para entrar e ficava esperando alguém abrir a janela do clube para eu espiar a festa. O diretor a postos recepcionava os casais que iam chegando. Animadas, as famílias iam entrando, quando apareceu um casal que, ao cumprimentar o diretor recebeu a mão no peito impedindo-o de entrar. Logo entendi do que se tratava, o casal fora barrado por ser pobre. Fiquei impressionado. Torci para que alguém intercedesse a favor daqueles desafortunados, mas todos fingiam não ver.

Em nada, absolutamente, em nada o casal ia tirar o brilho da festa, pois, estava perfumado, bem vestido, roupa nova, sapato novo igual aos demais. Eu conhecia o casal, era Gostosão e sua esposa. O nome Gostosão por vender quebra-queixo com esse nome. Custei acreditar no que via, o casal não podia entrar pelo simples fato de ser pobre. O tempo passava e não aparecia ninguém para socorrer aquele pobre Senhor de tamanha humilhação. O casal ia voltar para casa carregando em si toda humilhação do mundo, no meu entender, era demais para um homem.

Imaginei: “se o diretor tivesse sacado de uma arma e atirado no casal, teria cometido um crime menos grave. O diretor conseguiu matar um homem sem sacrificar o corpo.”  E concluí: “ se tivesse matado esse senhor teria feito um favor. ”  Saí daquele lugar e nunca mais voltei. Na época eu raciocinei assim: “o diretor do clube deve ser o melhor cidadão da sociedade, por essa razão que ele foi escolhido para representa aquela sociedade.

Todos os bacanas do salão juntos, inclusive o diretor, não chegaria ao chulé do casal Gostosão que voltou para casa com a mesma dignidade com que viera, apesar de triste, abatido e muito humilhado.

Episódio aparentemente banal! Pois é, dias depois, na igreja, eu via as pessoas que estavam na festa, inclusive o diretor, ajoelhando, rezando, orando e beijando o pé de Jesus. Nesse dia enxurrada de perguntas encontraram respostas, e a questão de religião, na minha vida, estava resolvida.

Nessa época eu já tinha outras informações importantíssimas: sabia que Santo Antônio, São Pedro, São Cosme, São Damião e todos os santos, inclusive Jesus, não vieram do céu, foram homens e viveram na terra como nós, fizeram parte dessa mesma imundície que vivemos, fizeram parte do nosso mundo, esse mundo imoral e preconceituoso. Impossível haver sacralidade naquilo que foi tocado pelo homem. O povo nunca foi diferente, o de ontem é o mesmo de hoje, e será para todo o sempre enquanto não pararmos de usar Jesus Cristos, as escrituras e o Deus Bíblico para camuflar a hipocrisia latente que existe na nossa sociedade. Que existe no nosso mundo. Que existe em cada um de nós. É isso!

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Brasileiro da Bahia que gosta de escrever. Escritor/Jornalista que gosta de abordar o cotidiano do seu ângulo de visão.

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