Da hora que cheguei pra Sant’Ana até agora, Caetité não se silenciou sequer um segundo. É uma poluição sonora da gota serena, que ninguém tem direito a um dedo de prosa.
Na festa de Sant’Ana de Caetité, só Luiz Benevides e o Bispo Dom José Silva Carvalho têm direito à fala. Eles falam, falam; os fiéis escutam, escutam e ninguém pode dizer nada, também de nada adianta, eles não escutam.
Depois da missa a vez é do apresentador das atrações da noite e suas potentes caixas acústicas que, quando ligadas, o som bate com tanta força nos tímpanos, feito prego caibral marretado. Sei que na Festa de Sant’Ana o direito a um minuto de silêncio foi negado aos fiéis.
Ontem, 24, a legião de entusiastas maravilhou-se com a performance dum cabra urrando no microfone, disseram ser cantor de “roquenrou”. Sei que o turrar do vocalista mais parecia grunhindo de porcos na ponta da peixeira. Logo que o roqueiro subiu ao palco uma cortina de fumaça encobriu o céu da praça. Tieteiros do urrador disseram ser incenso queimado em louvou à Sant’Ana. Mas, o cheiro acre de macegas queimadas não deixava dúvidas, era Cannabis sativa mesmo!
Quando as luzes do palco se apagaram os barraqueiros, literalmente falando, competiam entre si para saber quem mais torrava a paciência da clientela com seu som incomodativo. Ninguém tinha direito a dar um pio, pois ninguém conseguia ouvir ninguém. O diálogo era fragmentado, cansativo e de difícil entendimento:
– O quê?
– Estou indo embora!
– Está o quê?
– Indo embora!
– Embora?
– Sim!
– Pra onde?
– Pra casa!
– Pra o quê?
– Pra casa, ué?
-U o quê?
–U, é!
–Ah! Certo!
–Eu vou levar você!
–Assim é o bate-papo na festa de Sant’Ana.
Essa barulheira danada, que priva os cidadãos de dialogarem sobre a vida e, principalmente, sobre política, deixa a impressão que o Prefeito da cidade recebeu ordens do Partido dos Trabalhadores para manter essa zoada toda, para ninguém tecer comentários sobre os políticos do partido, do que eles fizeram com a nação, que fim deram ao dinheiro público e o estado lastimável que deixaram o povo brasileiro.
Ou então só pode ser coisa do vereador João do Povo; do advogado Marco Antônio Guanais; Moacir do Sindicato; Mario Rebouças e Dauro Nogueira, para que ninguém toque no assunto do momento: a calorosa recepção e o apadrinhamento do meliante José Dirceu, réu por duas vezes na lava-jato; réu no mensalão; condenado por corrupção ativa; lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Essa zoadeira danada nas ruas da cidade só pode ser coisa dessa gente. Mas, mesmo assim, de nada adiantou; nego sentou a pua! Claro, todo cidadão tem o livre-arbítrio de adotar o ladrão de estimação que lhe apraz. Agora, quando se trata de um vereador, aí o bicho pega, a coisa muda de figura. Ao vereador João do Povo não lhe é permitido esse livre-arbítrio, pois o mesmo não representa a si, representa seus eleitores, vez que o encontro foi político.
João do Povo, eleito pelo povo, não pode apoiar o algoz do povo. João do Povo não pode alegar ignorância, porque todo mundo no Brasil sabe que Zé Dirceu é ladrão. Uma pena! Excesso de festa em Caetité faz o povo votar num vereador que não se constrange em apoiar cabra safado.
Todos eles, sem exceção: vereador João do Povo; advogado Marco Antônio Guanais; Aguiar Rochael; Moacir do Sindicato; Mario Rebouças e Dauro Nogueira deveriam ter a hombridade de receber o delinquente Zé Dirceu às escondidas e depois jogar creolina no lugar para desinfetar o ambiente. Ou então recebê-lo numa brenha distante da cidade em respeito à Sant’Ana; em respeito aos caetiteenses, em respeito à decência e a moralidade para não contaminar a cidade.
José Dirceu é ladrão! José Dirceu é réu em vários processos criminais, portanto deve ser tratado com tal, não como um estadista.
O povo de Caetité precisa de oração, muita oração para livrá-lo desses políticos interesseiros. Então oremos à Sant’Ana:
Bendita mãe Sant’Ana, nesse momento turbulento em que passamos, não deixeis que crápulas como Zé Dirceu sejam recebidos de braços abertos pelos políticos de nossa cidade!
Ó Deus, que vos dignastes conceder à Sant’Ana uma tal abundância de graças que mereceu ela ser mãe da mãe de vosso Filho Unigênito Jesus Cristo, concedei-nos pela vossa misericórdia, que nós caetiteenses, assim como todos os brasileiros governados por partidos comunistas, sejamos ajudados e protegidos por aquela cuja memória nós celebramos com devoção e amor.
Amém?
(Texto: Eu, Zé William.)