Reviver Caetité; quem foi, foi, quem não foi, perdeu

Reviver Caetité; nunca vi tantos rostos conhecidos num curto espaço de chão. Cada rosto reacendia remotas lembranças que debulhavam histórias que há muito se encontravam no arquivo esquecido da minha memória. Quem foi, foi, quem não foi, perdeu!

As mulheres elegantes e chiques esbanjavam graça, os homens bem vestidos em seu traje de passeio completo ou esporte fino ostentavam ar de vitoriosos.

Imponente e desenvolto estava Dr. Zequinha, com a capona preta, batendo no meio da canela. Cheguei a falar para mim mesmo: “este cabra está pronto para enfrentar geada, chuva torrencial e todas as intempéries da vida”.

Inda bem que “Reviver Caetité”, a edição que aconteceu em 2011, não dava mais para protelar, porque o tempo urgia, e como urgiu! Se fossem realizá-la mais pra frente o bicho ia pegar e boa parte da galera teria que dançar o iê iê iê de bengala.

Foi muito bom! O saudosismo comeu solto, regado a uísque, cerveja, petiscos e muita conversa fiada. O cuidado para não embriagar foi difícil, mas não tanto quanto o de reconhecer os amigos e amigas que há muito não pisavam na terra e que naquela noite magnífica resolveram dar as caras. Quanto aos amigos, nada demais. Quando as lembranças nos traíam eles não se importavam muito e até ajudavam, já o mesmo não acontecia com as amigas. Quando a memória falhava, a mulherada censurava com olhar fulminante. Elas não entendem que o homem só olha para o rosto e a bunda da mulher e é esta lembrança que fica. Às vezes fazendo um ajuste na compensação: quando não muito bela, compensa se for boa de bunda e vice-versa; o que fica na mente é o registro destas duas imagens anatômicas. Ocorre que o tempo age com mais rigor justamente nestas partes do corpo delas, e aí a coisa complica.

Mesmo com todos os truques para esconder as marcas da vida, como a generosa base corretiva, a cinta modeladora emborrachada e a calcinha levanta bumbum, as formas não voltam ao que era antes “nem a pau” e, obviamente, as informações registradas no pensamento não condizem com as imagens exibidas na festa, daí o conflito memorial na hora do reconhecimento destas partes, mesmo fazendo um esforço descomunal o lembramento falhava e a mulherada ficava brava.

Para aliviar sufoco desse gênero sugiro a Rosana, para o próximo “Reviver Caetité”, a ideia de um crachá para ajudar na identificação. Mas se colocar letrinhas a coisa pode não funcionar, porque “véi” não consegue ler fonte tamanho 12. O ideal mesmo seria um crachá do tamanho do cartaz usado no cinema de Maria Pinho, para ficar bem visível, com letras garrafais e farta em informações identificatórias.

Brilhante ideia de Rosana, esta de barrar a entrada dos netos e filharada dos participantes, porque essa moçada iria perturbar um bocado. Mas teve alguém que, numa roda de conversa fiada, falou: “Nesta festa só tem velho, cara!”. E uma pessoa retrucou na hora: “É porque você não atentou para as moças do Buffet e para os garçons!

Sei que foi uma noite gostosa que proporcionou momentos para que revíssemos nossos contemporâneos. Nos bate-papos, os que não estão mais entre nós foram lembrados, e a falta foi sentida quando dos olhos dos participantes marejavam-lhe as lágrimas.

Nada mais que justa foi a homenagem rendida ao nosso Waldick Soriano. Quantos amores, ilusões e desilusões esta voz embalou? Somente despidos de todo e qualquer preconceito podemos enxergar a genialidade desse artista, a poesia em suas canções, e o sentimento no inconfundível timbre de voz desse extraordinário cantor que é um pedaço da nossa história.

É raro ouvir falar de encontros deste gênero. Somente uma sociedade civilizada que tem história, alma e riqueza cultural pode realizar evento como este e atingir plenamente todos os objetivos. De parabéns estão Rosana e todos aqueles que colaboraram direta ou indiretamente para o sucesso da festa. E na próxima, se for antes do convite de São Pedro, estarei lá.

Obrigado por me acompanhar até aqui.
(Zé William)

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Brasileiro da Bahia que gosta de escrever. Escritor/Jornalista que gosta de abordar o cotidiano do seu ângulo de visão.

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