Cine Vitória de Caetité

Igreja e jesus

𝐂𝐈𝐍𝐄 𝐕𝐈𝐓𝐎́𝐑𝐈𝐀

Olhando as fotos do último encontro da turma de Caetité, uma imagem chamou minha atenção: a que rendia . homenagem ao Cine Vitória. Era um banner perto de uma mesa cheia de livros, onde se encontrava a filha do Professor Gerson. A princípio, achei que fosse um banner esquecido de um evento anterior. Somente depois, Esilete telefonou-me dizendo que iria me mandar uma crônica de Marcelo Pinho de Castro sobre o Cine Vitória.

“Cine Vitória?” indaguei. “Ué, Zé William, ficou besta? O Cinema de Maria Pinho!” – respondeu ela. Foi a primeira vez que ouvi o Cinema de Maria Pinho ser chamado de “Cine Vitória”. Gostei da crônica de Pinho de Castro, rica em detalhes sobre o início, o meio e o fim do Cine Vitória, além de abordar um pouco da história política, econômica e cultural de nossa Caetité.

No início do texto, ele discorre sobre a inauguração e a morte prematura do “Teatro Centenário” (1922-1968). Há um certo pesar quando ele se refere ao desmoronamento do imponente teatro, pois foi ali que nasceu o glorioso Cine Vitória.

O texto é focado nos obstáculos e nas superações. As dificuldades encontradas foram muitas, como o precário sistema de energia elétrica, onde se transformava energia mecânica (Grupo de Gerador) em energia elétrica. Esse problema só foi solucionado no fim da vida do cinema, com a chegada do atual sistema Chesf/Coelba. Marcelo menciona também o despejo arbitrário dos equipamentos do cinema por parte de políticos adversários e a morosidade no transporte dos filmes entre Salvador e Caetité.

Marcelo destaca a mulher guerreira, ativa e batalhadora, Dona Maria Pinho, sua mãe, que não se abateu diante das dificuldades e com gana, força de vontade e determinação geriu brilhantemente os negócios do marido, dando uma atenção especial ao Cine Vitória, que funcionou perfeitamente sob sua batuta até 1963.


Marcelo menciona ainda seu pai, Sr. Guilherme Brandão de Castro, empresário bem-sucedido que sempre acreditou no potencial da região ao ousar empreendimentos arrojados, utilizando seu avião particular para agilizar o processo logístico. Infelizmente, esse mesmo avião sofre um acidente fatal em 11 de setembro de 1950, ao decolar de Bom Jesus da Lapa para Carinhanha, matando os três ocupantes: o piloto, o próprio Guilherme, o Deputado Estadual Gercino Coelho e o candidato a Governador Lauro de Freitas.

 

 

 

 

 

 

 

Sr. Guilherme Brandão de Castro, ao lado do seu avião.   Seu Esíchio e Eliéquio em frente ao avião de propriedade de Guilherme Castro, que se acidentou no morro da Lapa, com o pai de Nilo Coelho, Gersino Coelho e Lauro de Freitas em 1950.

 

Na crônica, ele aborda a evolução do cinema mudo para o falado, da película de 16mm para 35mm, e a chegada da nova tecnologia, o filme “CinemaScope”, com imagem de alta definição, cores mais vivas, som estereofônico e outras vantagens. Ele também menciona a necessidade de adaptar a sala de projeção para receber essa novidade. Marcelo detalha o funcionamento da máquina e conta causos interessantes ocorridos nesse período, finalizando com a venda do cinema.

Este comentário é um agradecimento pessoal ao autor da crônica pela iniciativa de deixar registrado o início, meio e fim do Cine Vitória. E quem melhor do que Marcelo para realizar esse trabalho? Eu passei a assistir filmes depois de 1964. Naquela época, era chamado de Cinema de Maria Pinho, daí eu ignorar o nome “Cine Vitória” mencionado no início do texto.

O cinema me cativou, foi amor à primeira vista. Passava o dia inteiro maquinando maneiras de entrar no cinema, lícitas ou ilicitamente, e dificilmente perdia uma sessão. Cinema, no meu entender foi, é e será um grande fomentador de Cultura. À “Sétima Arte” incorporam-se todas as demais artes: literária, poética, fotográfica, cênica, musical, dança e muitas outras. Se na infância não tivesse assistido aos filmes, minha concepção de mundo seria diferente. Através dos filmes, passei a compreender melhor a raça humana: filme estadunidense, dos gêneros épico e drama histórico, como “Cleópatra”(1963), que narra a luta da jovem Rainha do Egito, para resistir às ambições imperiais de Roma e outro como “O Egípcio de 1954”, do gênero drama histórico, baseado no livro Mika Waltari; os filmes de guerra, especialmente os que focam nos gases asfixiantes dos alemães, mostrando do que somos capazes; os que abordam o racismo dos americanos à nossa intolerância  como no clássico: “O Sol É Para Todos” – Filme 1962 –  e outros do gênero drama, que exploram  temas importantes como racismo, moralidade e justiça;  o extermínio dos índios, os peles-vermelhas, pelos EUA na figura do caubói John Wayne, retratando nossa intolerância para com os nativos; “O Manto Sagrado” e “Ben-Hur”, que fazem propaganda da fé; e outros que revelam os bastidores da Santa Inquisição mostrando o poder ilimitado da Igreja Católica  e que retratam com fidelidade a nossa sociedade. Os filmes cinematográficas não escondiam a realidade do que éramos.

Sem a ajuda das películas exibidas no Cinema de Maria Pinho, eu não teria encontrado sabedoria suficiente para entender a sociedade na qual vivia, e isso foi fundamental nas decisões que tomei na vida. Tenho plena convicção de que todos os esforços da família Pinho para manter vivo o cinema em Caetité valeram muito a pena, pois contribuíram para o enriquecimento espiritual, intelectual e moral de todos os moradores que viveram essa época áurea do cinema e tão bem aproveitaram na nossa cidade e região, além, claro, de proporcionar entretenimento de qualidade num período de poucas opções.Valeu!

Por: Zé William.

 

About José William Vieira

View all Posts

Brasileiro da Bahia que gosta de escrever. Escritor/Jornalista que gosta de abordar o cotidiano do seu ângulo de visão.

Deixe um comentário

Pular para a barra de ferramentas