Beber o Cafezinho de João é como estar no céu. Toma-se um gole e pronto: vê estrelas, o mundo roda, a terra estremece, o estômago embrulha, a vista escurece…
Nunca vi troço igual. O antigo purgante de óleo de rícino, que as crianças tomavam para soltar as lombrigas, em vista do cafezinho do João, é manjar do céu.
É a pior coisa do mundo. Tem gosto de molambo, cheira a desodorante de puta, frio como defunto e amargo como a vida.
Qualquer troglodita é capaz de fazer um café melhor do que o cafezinho do João.
É cafezinho especial para visitas indesejáveis, oferece uma vez e ela não volta nunca mais.
Ó!…pode botar ruindade nisso! É pior que as letras de pagode da Bahia e das músicas tocadas nas rádios FMs.
Não há cabra macho de saco roxo que se atreva a tomar o cafezinho de João sem que venha sentir treco de mulher. É!…Entojo de mulher grávida: náuseas, enjôo, repugnância e desejo… Desejo de morrer.
Se Luiz Gonzaga tivesse provado o cafezinho de João não teria dito que a dor do amor amarga que nem jiló, e sim que nem o cafezinho de João.
Até a presente data, não se tem notícia de ter aparecido um voluntário a se manifestar pela segunda vez a se servir daquele caldo preto.
Parece ser a única pessoa no mundo a fazer café da folha verde do cafezal, é o meu amigo João, porque da semente do cafeeiro não pode ser.
Aquela coisa horrenda, cor de sujo que se serve em uma garrafa térmica, tido como café, serve pra tudo, menos pra beber. Poderia ser usado nas igrejas para fazer os fiéis se arrependerem dos pecados: toma-se um gole do líquido e o arrependimento é na hora e dura o resto da vida. Serve também para memória: toda vez que arrota lembra da besteira que fez.
Poderia ser usado também nos cárceres em substituição das torturas tradicionais: ao invés do pau de arara e outras, a tortura de tomar o cafezinho do João. O preso por mais retado que seja, bota a boca no trombone para não botar a boca no cafezinho do João.
Se você acha que estou exagerando, vamos visitá-lo. Eu faço questão de lhe servir na bandeja, o CAFEZINHO DO JOÃO.
20.07.93