Eu sempre sonhei ser alguma coisa na sociedade, mas, infelizmente, nunca consegui ser coisa alguma. Somente agora, caindo os cacos de véi, descobrir os motivos: o cabra tem que aceitar tudo goela abaixo.
Quando entro nas igrejas e não vejo ninguém discutido religião, só escutando, caio fora antes de receber a carga pesada de catequização.
Queria fazer parte do Centro Espírita, mas, lá, só pra quem é inteligente, porque o negócio é complicado demais. O cabra tem que ser erudito, intelectual para entender profundamente das filosofias que nem eles mesmos entendem.
Pensei ser político, exigiram de mim diploma vocacional de safadeza, de ladrão, de inescrupuloso, descarado, salafrário, hipócrita, sarcástico, oportunista; desisti!
Pensei ser membro do Lions Clubs, também desisti porque meu aparelho digestivo não aguenta banquete todos os dias.
Até professor pensei ser, mas até hoje nunca tive convicção de nada para que pudesse passar para os mais jovens.
Por fim, limitei-me a vagar pelos mares, feito iceberg à deriva, até encontrar uma costa que valha a pena encalhar e terminar esse tiquinho de velhice que me resta sem me vincular a nada, sem pertencer à ninguém.