O fato de “empresas (leia-se empreiteiras) brasileiras” com negócios na Guiné Equatorial terem financiado a escola de Samba Beija-Flor, campeã do Carnaval carioca, é apenas um dos pontos de contato entre esse escândalo e aquele outro, o petrolão. Segundo delações premiadas de dirigentes de empreiteiras presos, parte do dinheiro desviado da Petrobras voltava para o PT em forma de doações legais.
Essa maneira de lavar o dinheiro foi utilizada pelas empreiteiras que atuam na Guiné Equatorial para financiar a Beija-Flor em R$ 10 milhões, na tentativa de tornar o apoio da ditadura daquele país mais palatável à opinião pública.
A Odebrecht negou que tenha participado dessa vaquinha, e informou que não tem obras na Guiné Equatorial, de onde saiu em 2014. No entanto, após a visita de Lula em 2011, como representante da presidente Dilma, a empreiteira brasileira entrou no mercado de obras públicas na Guiné Equatorial e chegou a ser considerada favorita para a construção de uma capital administrativa.
Na ocasião, Lula levou na comitiva oficial o diretor de novos negócios da Odebrecht, Alexandrino Alencar, que, (não) por acaso, também está envolvido no petrolão. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa contou ter recebido US$ 23 milhões da Odebrecht numa conta aberta na Suíça. Alexandrino Alencar tinha contato constante com o doleiro Rafael Angulo Lopez, que trabalhava com Yousseff, e a polícia suspeita que o intermediário do suborno a Costa tenha sido Alencar.
A Operação Lava Jato está investigando as diversas empresas da Odebrecht pelo mundo e os procuradores acreditam que elas foram utilizadas para o pagamento de subornos, sem que o dinheiro possa ser traçado nos bancos brasileiros.
As estripulias da família Obiang no Brasil não são poucas. Além das festas que o filho do ditador Teodorin promove em seus apartamentos no Rio ou em São Paulo, ele parece receber tratamento especial no Brasil. Conseguiu escapar da Polícia Francesa em 2013 quando estava em Salvador e o tradicional bloco Ilê Aiyê homenageou a Guiné Equatorial, antecipando-se à Beija-Flor.
O vice-presidente Teodorin Nguema Obiang Mange teve mandado de prisão expedido pelo governo da França por lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos estrangeiros, mas fugiu no avião oficial de seu país antes que a Polícia baiana cumprisse o mandato de prisão.
O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, é o ditador africano mais antigo. A riqueza em petróleo contrasta com a miséria de seu povo: sete de cada dez habitantes (600 mil) sobrevivem com renda inferior a US$ 2 por dia, segundo o Banco Mundial. A desnutrição domina 39% das crianças com menos de 5 anos, mas o ditador é dos 10 governantes mais ricos do mundo segundo a revista Forbes.
Mas o Brasil não ajudou Guiné Equatorial a montar uma espécie de Fome Zero por lá. Foi a este país que o Brasil de Dilma concedeu anistia de 80% da dívida de R$ 27 milhões. A explicação oficial é que o fluxo comercial entre o Brasil e a Guiné Equatorial saltou de US$ 3 milhões em 2003 para cerca de US$ 700 milhões atualmente. A anistia, na verdade, foi um gesto político, por que a dívida não representa grande coisa para os dois países.
Especialmente para os Obiang, cujo herdeiro Teodorin gastou o dobro dessa soma em uma única noite na Christie’s, em Paris, em 2009, durante o leilão da coleção de arte de Yves Saint Laurent e Pierre Bergé. A relação da Guiné Equatorial com o Brasil vem se estreitando tanto desde o governo Lula que o ditador Obiang deseja tornar o português língua oficial no país, que foi colonizado pela Espanha. E o Brasil apóia essa palhaçada querendo que a Guiné Equatorial faça parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Segundo definição do jornal espanhol El País, baseado em notícias oficiais da chancelaria espanhola, fazer negócios com o clã familiar de Teodoro Obiang é arriscado. “O pagamento de comissões é obrigatório e as disputas comerciais, muitas vezes fictícias, derivam, às vezes, em extorsão, ameaças e em perda do investimento para salvar a vida. (…) Este sistema corrupto impregna até o último rincão da administração guineana”.
Com todo esse histórico de truculência com corrupção, não é de espantar que o escândalo da Guiné Equatorial tenha correlação com o do petrolão em algum momento, e que “empreiteiras brasileiras” tenham decidido homenagear ditadores tão reconhecidos internacionalmente. Sob a benção dos governos