NATAL CHEGANDO, E O SOFRIMENTO PARA MOSTRAR SER O QUE NÃO É

Natal chegando, e o sofrimento para mostrar ser o que não é
 
Fim de ano chegando, momento difícil na vida de todos, pois, é hora de fingir ser o que não é, para passar a ideia de solidário, fraterno, filantrópico, num processo doloroso, onde se exige muito esforço para ser o que não é por um período longo. Mas, treinado, se consegue.
 
Não é um exercício fácil, principalmente para quem foi antipático por muito tempo e, no finalzinho do ano, resolve se tornar agradável desejando boas festas, feliz natal, ou algo assim. Mas, nada que não consiga disfarçar essa sua indiferença para com o próximo, durante esse período complicado do ano.
 
Tente! Não custa tentar, né? No início, pode achar estranho praticar a generosidade. Depois vai se acostumando a ponto de, sem se constranger, saudar um pobre. Portanto, mão na massa. Nada que não possa ser disfarçado durante esse período complicado. Comece cumprimentando o porteiro do seu condomínio, cobrador de ônibus, caixa do supermercado, essas pessoas que a gente só cumprimenta na marra. Evite demonstrar prazer em desdenhar o próximo, com àquela antipatia de manter o eterno diálogo no celular ou com outra pessoa, quando alguém entra no elevador. Procure ler a notícia antes de sair de casa para ter um dedo de prosa, caso se depare com um chegado na rua.
Rede Social é excelente para exercitar os sentimentos natalinos. Se gostar de uma postagem: curta! Comente! Compartilhe! Evite o insuportável “Com certeza”, de quem tem cabeça oca e não gosta de pensar. E quando essas coisas chatas, os amigos, enviarem mensagens, treine com eles. Energize-se antes e se esforce para ser menos indiferente, que você consegue. Aja assim: ao cumprimentar esse troço maçante, o amigo, evite os bonequinhos cheios de tremeliques. Através de imagem “JPEG”, ou “GIF pirilâmpico” não serve. Diga “Bom dia” com vontade, escrevendo “Bom dia” por extenso, entendeu? Isto já é um bom começo. Sair de bonequinho para texto da própria lavra, é mudança de água para o vinho.
 
Não desista, continue praticando. Vá se adestrando. Após bastante treino, você vai se aprimorando como ser humano que, além de escrever o simples “Bom dia”, será capaz até de transmitir sentimento afetivo na saudação, ao acrescentar o nome próprio de quem vai receber a mensagem. Exemplo: “Bom dia, fulano!”. “Bom dia, sicrano!”. “Bom dia, beltrano!”. Notou a diferença? Viu como melhorou a comunicação ao incluir o nome dessa coisa que você chama de amigo? Você acabou de personalizar o seu cumprimento. Deixou de liberar o pacotão de figurinhas tremelicantes para todo mundo, tentando demonstrar passar como bom camarada para todos, mas acaba demonstrando ser chapa de ninguém. Ao praticar um gesto simples como esse, de apor o epíteto da pessoa na mensagem, você já começa quebrar o gelo da sua própria frieza. É doloroso, é! É cruel, sim! Agora, que precisa fazer, precisa, caso queira participar das festas, não tem outro jeito, você terá que fingir a ponto da pessoa acreditar na sua sinceridade fingida, até aparecer maneira melhor de participar dos festejos de fim de ano.
 
No cumprimento está o DNA da sinceridade de cada um, portanto, capriche. Poucas pessoas descobriram a importância desse gesto, sobretudo quem tem apenas sessenta, setenta anos de idade, ainda não teve tempo suficiente para entender o verdadeiro significado da saudação. Predispondo-se à escrita de cortesia personalizada, ao receber, o destinatário pensa que houve consideração de sua parte, ao perceber que a mensagem não se trata de um disparo de robô e, diante disso, se sente valorizado pelo nome lembrado. É quando pergunto: O que que custa? O que que pesa, além de um tiquinho do seu tempo? Reforço: vale a pena, e a recompensa aparece quando você passa a sentir orgulho de si, por conseguir atenuar sua aversão ao próximo, especialmente os tais amigos, que perturbam ao se preocupar contigo, em querer saber como você está, assim como lhe convidar para participar de amigo oculto e outras chatices dos festejos natalinos.
 
Não é tarefa fácil, portanto, não se desanime, jamais. Tente quantas vezes necessário for. Pratique! Empenhe-se em exercitar essa árdua tarefa! É por pouco tempo, até perdurar a “Folia de Reis”. Depois, você volta a ser antipático como sempre foi, e tudo fica como dantes. A farsa acaba, você retorna a disparar em massa seus bonequinhos tremelicando feito vara verde, e só vem a sofrer datilografando texto enorme de até três palavras, somente nas próximas festas. Entendeu?
 
No ensejo das festividades, desejo a todos um Feliz Natal e Próspero Ano Novo, que passem as festas em paz e alegria. Obrigado por me acompanhar até aqui. Valeu!
Zé William
 
Vitória da Conquista, Bahia, novembro de 2023.

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Brasileiro da Bahia que gosta de escrever. Escritor/Jornalista que gosta de abordar o cotidiano do seu ângulo de visão.

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