Eu, pior pai da paróquia

Eu não fui um bom pai, porque nunca fui amigo dos meus filhos! Sempre fui pai dos meus filhos.

Na hora do não, era não! Na hora do sim, era sim! Em casa, era eu, não os filhos, quem determinava o que deveríamos comprar no supermercado, o que iríamos comer no almoço ou no jantar.

Na hora do noticiário eu era horrível como pai: assistia ao noticiário, não aos desenhos animados, conforme exigência dos filhos.

Filho meu, se não quisesse comer, não comia. Não havia culpa, eu sabia que, quando a fome apertasse ele procuraria pelo prato.

Se o meu filho quisesse um sapato, uma roupa ou uma mochila nova, ele não recebia de imediato, havia todo um processo de protelação para ele valorizar e saber que nada caia do céu, que na vida nada vem de graça.

Filho meu só recebia comida na boca quando doente; são, ele tinha que se virar sozinho para aprender a ficar independente o mais cedo possível, não me importava se ele melasse a casa toda de feijão e ovo.

Eu virava um surucucu do papo amarelo quando vinha nota vermelha da escola.

Eta! Como eu era mau! Um inquisidor quando meu filho desrespeitava alguém, principalmente a mãe, irmão, parente, amigo, vizinho, visita, quando isso acontecia eu jogava duríssimo. Fechava a cara e não ria da falta de respeito de meus filhos para com os mais velhos.

Apesar da minha ruindade como pai, filho meu tinha toda liberdade de escrever na parede, sujar a roupa, a casa, bulir em tudo. Ligar rádio, televisão e fazer tudo que quisesse, desde que não comprometesse sua integridade física e não faltasse com o respeito.

Filhos meus tinham que ser homem de fibra, mulher de fibra por índole, não por religião, por isso não receberam orientação religiosa e, no meu entender, somente depois dos 25 anos de idade é que a pessoa deve receber essa orientação.

Outro motivo, é que as três piores pessoas que conheci na minha infância, eram religiosas fervorosas que, de madrugada, de véu na cabeça, terço e bíblia na mão, desciam à rua praguejando ou rezando, não sei, indo direto pra igreja rezar.

Fui um péssimo pai, nunca iludi meus filhos dizendo que a vida é um mar de rosa, que as pessoas são maravilhosas e que o ser humano é a semelhança de Deus. Dizia o contrário: ser humano é cuspido e escarrado o capeta. Se, porventura, viesse a se deparar com uma pessoa virtuosa, seria sorte grande.. Eu procurava passar a verdade nua e crua.

Não dava moleza não! Quando tinha carro; íamos para a escola de carro! Quando não, íamos a pé! De nada adiantava o chororô, não chama táxi.

Ensinava a pedir desculpas e reprimia quando eles banalizavam o pedido de desculpa.

Eu, exemplo de péssimo pai, nunca disse para meus filhos que Jesus perdoava os pecados deles, que Deus perdoava os pecados deles. Eu dizia sempre! Errou, deixe de desculpa esfarrapa e
assuma o seu erro e arque com as consequências!

Não tinha como ser bom. Se bom eu fosse, ruim seria pra eles, porque o mundo não presta, não iria passar a mão pela cabeça deles. O mundo é cruel e injusto e eles precisavam saber disso. Por pior que eu fosse, infinitamente, eu era melhor que o mundo. E, com toda ruindade que fui, sempre quis o melhor para eles.

Sempre quis bem aos meus filhos. Sempre gostei dos meus filhos e, por gostar demais da conta e querer o melhor pra eles eu me esforçava. E na tentativa de dar o melhor de mim cometi muitos erros e acertos, mais acerto que erros.

Essa alegria, esse prazer de ser pai. Esse sentimento nobre que espontaneamente floresceu em mim depois que meus filhos nasceram, dando sentido à minha vida e a minha existência, eu exprimo como uma vocação divina, uma dádiva de Deus.

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Brasileiro da Bahia que gosta de escrever. Escritor/Jornalista que gosta de abordar o cotidiano do seu ângulo de visão.

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