Tive uma imensa decepção com uma pessoa que quase caí de costas. Pessoa que eu tinha um certo apreço. Outrora, tinha uma mente aguçada. Interessava-se por coisas nobres; preocupava-se em selecionar palavras para explanar melhor suas idéias. Casos velhos que essa pessoa contava ganhava roupagem nova. Casos interessantes que puxava pela reflexão.
Agora estava muito mudado, parecia ter desistido. Seu vocabulário não passava de dez palavras chulas para adjetivar tudo e exprimir qualquer sentimento. Seus casos ficaram desinteressantes e incompletos. Seu palavreado desrespeitava as mulheres e ofendia as famílias e ele não se atinha a isso. Parecia não ter consideração por mais ninguém, nem mesmo comigo.
Desdenhava os valores morais e mostrava-se enfadonho com o mundo e consigo mesmo. Fique triste, muito triste, com tudo que vi. Não sabia que pessoa desabava dessa maneira. Gastei um tempão pensando no assunto e não achei explicação.
Ele, dois terços da minha idade, parecia haver desistido. Refleti mais um tempo, em respeito à consideração que houvera um dia de minha parte para com ele, dele para mim, já não existia reciprocidade e parecia nunca ter existido.
Pensei: a estrada da vida cada um constrói a sua conforme lhe apraz. Por não encontrar mais nenhum sentido em permanecer naquele lugar, resolvi sacudir a poeira, fitar o horizonte e seguir em frente.