Help! Socorro! Ajude-me! Estou aniversariando de novo. O que aconteceu com o tempo que antes mesmo de acabar um ano, já apresenta-me outro aniversário. Será que ele perdeu a noção de si mesmo a ponto de não saber o tempo mínimo necessário do registro de um aniversário para o outro? Onde me encontrava quando tudo aconteceu? Por que tudo assim tão de repente? Em que parte do tempo ruíram meus sonhos? Em que lugar da vida tombou a minha juventude? Para onde evadiram-se meus encantos? Por que tanta crueldade na ação do tempo?
Eu que sempre busquei ser atraente, jovem, afável, rico, bonito e carismático, acabei na vida conquistando só pés de galinha nos cantos dos olhos, flacidez muscular, estrias, pança flácida, cabelos brancos e o insustentável fastio noturno. Por que as verdades tem que vir assim, destilando o seu fel? Onde errei? Que fiz da eternidade que meus aniversários me deram? O que aconteceu com a vida que escapuliu entre os meus dedos enquanto eu buscava o meu sustento?
Como orgulhar-me de tantos aniversários e poucos feitos? Eu, um covarde que por medo das intempéries da vida, enclausurei-me na escuridão fria e desalmada da pseudo segurança do emprego? Onde está o mérito da minha existência, um mofino que, por medo, aceitou a condição de escravo mecanizado em troca de mórbidos salários? Como suportar tantos aniversários dentro de uma vida abarrotada de filosofias ocas. Ai quem dera eu pudesse voltar ao tempo e trilhar outros caminhos.
Deus! Como explicar-lhe e a mim a benção de tantas primaveras atribuídas a um ser que é capaz de se indignar diante de tanta miséria e infortúnio no mundo e nada fazer? De tanto tempo na terra e não compreender a exata dimensão da vida? De não conseguir fazer relampejar no coração um verdadeiro sentimento.
Deus, ó Deus! Sinto um imenso vazio rasgando o meu peito e gelando meu ser, como se eu fosse um iceberg à deriva nos mares procurando entender esta coisa imensurável que as pessoas apelidaram de vida.
Você precisa fazer login para comentar.